domingo, 1 de maio de 2011

Ler devia ser proibido

A pensar fundo na questão, eu diria que ler devia ser proibido.
Afinal de contas, ler faz muito mal às pessoas: acorda o homem para realidades impossíveis (…)
Ler realmente não faz bem. A criança que lê pode se tornar um adulto perigoso, inconformado com os problemas do mundo, induzido a crer que tudo pode ser de outra forma. Afinal de contas, a leitura desenvolve um poder incontrolável. Liberta o homem excessivamente. (…)
Sem ler, o homem jamais saberia a extensão do prazer. Não experimentaria nunca o sumo bem de Aristóteles: o conhecer. Mas para que conhecer se, na maior parte dos casos, o que necessita é apenas executar ordens? Se o que deve, enfim, é fazer o que dele esperam e nada mais?
Ler pode provocar o inesperado. Pode fazer com que o homem crie atalhos para caminhos que devem necessariamente ser longos. Ler pode gerar a invenção. Pode estimular a imaginação de forma a levar o ser humano além do que lhe é devido.
Além disso, os livros estimulam o sonho, a imaginação, a fantasia. Transportam-nos a países misteriosos, nos fazem enxergar unicórnios azuis e palácios de cristal. Fazem-nos acreditar que a vida é mais do que um punhado de pó em movimento. Que há algo a descobrir. Há horizontes para além das montanhas, há estrelas por trás das nuvens. Estrelas jamais percebidas. É preciso desconfiar desse pendor para o absurdo que nos impede de aceitar nossas realidades cruas.
Não, não deem mais livros às escolas. Pais, não leiam para seus filhos, podem levá-los a desenvolver esse gusto pela aventura e pela descoberta que fez do homem um animal diferente. (…) Professores, não contem histórias, podem estimular uma curiosidade indesejável em seres que a vida destinou para a repetição e para o trabalho duro.
Ler pode ser um problema, pode gerar seres humanos conscientes demais dos seus direitos politicos, em um mundo administrado onde ser livre não passa de uma ficção sem nenhuma verossimilhança. Seria impossível controlar e organizer a sociedade se todos os seres humanos soubessem o que desejam. (…)
O mundo já vai por uma caminho. Cada vez mais as pessoas leem por razões utilitárias: para compreender formulários, contraltos, bulas de remédio, projetos, manuais etc. Observem as filas, um dos pequenos cancros da civilização contemporânea. Bastaria um livro para que todos se vissem magicamente transportados para outras dimensões, menos incômodas através do tapete mágico, do pó do pirlimpimpim, da máquina do tempo. Para o homem que lê, não há fronteiras, não há prisões.
O que é mas subversivo do que a leitura?
É preciso compreender que ler para se enriquecer culturalmente ou para se diverter deve ser um privilégio (…) Afinal de contas, a leitura é um poder, e o poder é para poucos. (…) a leitura promove a comunicação de dores, alegrias, tantos outros sentimentos. (…) A leitura ameaça os indivíduos porque os faz identificar sua história e outras histórias. Torna-os capazes de compreender e aceitar o mundo do Outro.
Sim, a leitura deve ser proibida. Ler pode tornar o homem perigosamente humano…

Giomar de Grammont

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